Lembranças do passado

Recebi hoje um e-mail de um camarada que fez a comissão na CCS/BCAÇ. 2834 comigo, o Luís Neto, a desejar-me festas felizes.

E também recordou-me que no próximo dia 31 de Dezembro, faz 50 anos (!!!) – como o tempo voa, sem darmos por isso -, que estávamos a tomar banho no rio Geba em Buba.

Tínhamos uma amizade forte. Da esquerda para a direita: Grazina (motorista do Comandante, Luís Neto ao meio e eu à direita, em minha casa num almoço quando viemos de férias à Metrópole em 1968.

Hoje, o Luís e eu estamos assim:

 

Camarada Luís Neto

Tive uma notícia que me deixou muito preocupado, referente ao camarada Luís Neto que privou comigo diariamente no dia-a-dia da nossa actividade da Secretaria da CCS do Batalhão.

Telefonei para casa dele na ideia de trocarmos umas larachas e falar-lhe da careca dele e a esposa informou que ele tinha ido hoje para o Hospital de Vila Franca de Xira, dado que se sentiu mal e ainda não sabiam o que se passava.

Espero que tudo não passe de uma situação passageira e… força Luís!

Tínhamos uma amizade forte. Da esq. para a direira: Greazina (motorista do Comandante, Luís Neto ao meio e eu à direita, em minha casa num almoço quando viemos de férias à Metrópole em 1968

Tínhamos uma amizade forte. Da esq. para a direita: Grazina (motorista do Comandante, Luís Neto ao meio e eu à direita, em minha casa num almoço quando viemos de férias à Metrópole em 1968

Nota: Já falei ao telefone com o Luís, estava em casa em convalescença e os exames não ditaram nada de anormal.

Sai cabrito à Luis Neto p’ró jantar e uma lata de manteiga derretida com casqueiro p’rá ceia…!!!…

 

Almoço de confraternização da CCS/B.CAÇ. 2834 – Guiné 1968/69

bandeira320Fui contactado hoje por um camarada da CCS – Flávio Ribeiro – que informou ir realizar-se um Almoço Convívio da Companhia, no próximo dia 21 de Junho, na Quinta da Gracinda Mateus, em Tomar, assim como o respectivo convite para a comparência no evento.

Como estou dependente de boleia dado que não possuo transporte próprio, veremos se poderei ou não deslocar-me. Entretanto, pesquisei na Internet pelo Restaurante e daí retirei imagens e localização do mesmo, isto para o caso de alguém ligado à CCS, que leia este post, estar interessado também na comparência desse Almoço-Convívio.

Informo, desde já, que não me encontro ligado à Organização do mesmo, pelo que os eventuais contactos devem ser canalizados para as vias competentes

flavioribeiro46@sapo.pt  //  Tlm.  918076705

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Cerimónia da entrega da Medalha Guiné 1968-69

No passado dia 28 de Maio de 2014, pelas 14:00 horas, no Regimento de Lanceiros 2 (Polícia do Exército), teve lugar uma cerimónia para entrega da Medalha Guiné 1968-69, presidida pelo Exmo. Senhor Comandante da Unidade (Cor), Segundo Comandante (Ten.Cor) e vários Oficias. A ligação desde o contacto telefónico até à data da cerimónia foi sempre efectuada através do Senhor Sargento-Chefe Carlos Marques que teve a amabilidade de ser o cicerone na visita à Unidade e aos seus vários polos de actividade.

Confesso que emocionei-me (coisas da velhice) quando o Exmo. Senhor Comandante colocou a medalha no meu peito pois num flash lembrei-me dos tempos passados com os meus camaradas na Guiné em 68/69 e sem querer, as lágrimas chegaram-me aos olhos. Impossível resistir a este momento, passados que foram 45 anos, tendo o Exmo. Senhor Comandante mencionado “até parece que foi ontem…”. Nem mais. Parecia mesmo que aquele momento tinha sido ontem a saída da Guiné em Novembro de 1969, embora o cenário fosse a Sala do Comando do R.L. 2…

Aqui ficam as imagens desta cerimónia, tiradas por um elemento do Regimento e gentilmente cedidas através do Exmo. Senhor Sargento-Chefe Carlos Marques.

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Dado o meu ciclo de vida estar a chegar ao fim, esta medalha será entregue a uma das minhas netas para recordar, juntamente com este Blogue, o período em que o avô esteve ao serviço das Forças Armadas Portuguesas, no tempo do fascismo salazarista, deslocado na ex-colónia da Guiné-Bissau desde Janeiro de 1968 a Novembro de 1969.

Mais uma humilhação para os ex-Combatentes

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José Alberto Morais da Silva, Coronel Piloto Aviador na Reforma, vem, por este meio, protestar contra a vergonha e humilhação por que fez passar os Antigos Combatentes vergonha quando da visita de V. Excelência a Moçambique!

Por certo que sabia ou se não sabia, alguém do luzidio séquito que o acompanhou na visita deveria ter-lhe dito, que havia um cemitério no Maputo onde estão os restos mortais de vários Militares Portugueses que perderam a vida nos combates em Moçambique durante a guerra do Ultramar.

Era sua obrigação, como Primeiro Ministro de Portugal ter ido prestar homenagem aos nossos mortos em combate.

Mas V. Excelência, do alto dos seus altos conhecimentos da arte de ser político ou por não ter cumprido Serviço Militar e, portanto, não saber bem o que significa a palavra Patriotismo, decidiu prestar homenagem aos mortos do nosso adversário nessa guerra, deixando no esquecimento aqueles que perderam a vida numa guerra que justa ou injusta, foi uma guerra em que perderam a vida alguns milhares de Militares Portugueses.

Este acto de V. Excelência foi mais uma desconsideração e humilhação para os Militares deste País e poderá V. Excelência ficar a saber que 1.300.000 Portugueses, Antigos Combatentes também não esquecerão a afronta cometida pelo Primeiro Ministro de Portugal.

José Alberto Morais da Silva
Coronel da Força Aérea na Reforma
BI. 000201B

Facebook

(Nota) – Este PM odeia os Portugueses e Portugal. O pai dele confirmou isso na entrevista que deu. Considerou que não se revê neste Portugal que o encontrou «sujo e imundo», talvez por trazer na bagagem a memória de uma Angola «florida e limpa»… Isto diz tudo. Mas se este Portugal se encontra “sujo e imundo”, deve-o TOTALMENTE a políticos da estirpe de Pedro Passos Coelho e de TODOS os que anteriormente desgovernaram o País no pós 25’Abr’74. Não sei é porque esta família não regressa à terra que tanto ama e pedem nacionalidade angolana… Não fazem cá falta mais fascistas dos que por aí abundam, camuflados de “democratas”…

Falecimento de um Oficial do B.CAÇ.2834

Um grande Oficial, humano, camarada, sempre disposto a ajudar os seus subordinados, de uma franqueza simples e directa, não existem palavras para descrever a personalidade e a pessoa do então Tenente do Serviço Geral do Exército, Arma de Artilharia, Luís de Ascenção Esteves, Chefe da Secretaria da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do Batalhão de Caçadores 2834 da qual fazia parte, sendo meu Chefe directo.

Anos depois da desmobilização (1969), na companhia do camarada Luís Faustino Neto, deslocámo-nos à Carregueira onde ele se encontrava a prestar serviço já com o posto de Capitão. Foi bom relembrar os tempos (maus e bons) que passámos nesta Comissão, as peripécias ocorridas e depois disso nunca mais tive contacto com ele dado que entretanto mudei de residência e “desapareceram”, na mudança, duas caixas que continham agendas com contactos, livros, cassetes de vídeo, filmes, slides da Guiné, etc.

Resolvi esta semana encetar esforços no sentido de tentar localizá-lo, contactando o Arquivo Geral do Exército, o Comando de Pessoal, o Arquivo Histórico Militar mas ninguém conseguia achar a ficha do nosso Capitão por não se encontrar na base de dados militar.

Contudo e com a ajuda fantástica do senhor Sargento-Ajudante Valverde, do Comando de Pessoal, hoje e finalmente foi-me dada a notícia (triste) que o nosso (Ten.) Capitão Esteves tinha falecido em 29 de Setembro de 2012 com 92 anos.

Na impossibilidade de contactar a Família, por desconhecer o seu paradeiro ou contactos, aqui ficam os meus votos de muito pesar pelo falecimento deste Oficial que sempre respeitou os seus subordinados, com uma atitude digna de um autêntico cavalheiro, não esquecendo a componente militar.

Paz à alma do Senhor Capitão Luís de Ascenção Esteves

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Foi ele que concebeu e desenhou a heráldica do nosso Batalhão

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Histórias da Guerra

Preparação de quadros para a revolução mundial

Contributo para a História da Lusofonia
Negros

Guerrilheiros africanos no Centro de Preparação na Crimeia

A União Soviética preparou milhares de guerrilheiros para “combater o imperialismo” nas mais diferentes regiões do globo. Deixo aqui a tradução de um texto publicado no jornal ucraniano Vzgliad a 14 de Novembro de 2013.
N.B. Publico isto no meu blogue para que todos possam ler e utilizar estas informações. Porém, gostaria de pedir aos que irão utilizar isto em futuros livros ou artigos que citem de onde retiraram as informações. Faço este apelo porque andam aí uns Joaquins a aproveitarem-se do trabalho dos outros.
 
Durante a época da URSS, o Centro de Treinos na Crimeia, na vila de Perevalnii, fornecia quadros de comando aos exércitos e destacamentos de guerrilha nos países da Ásia e da África. Muitos dos que passaram por ali e tiveram a sorte de sobreviver na luta contra os imperialistas e colonizadores, chegaram a generais, comandantes de exércitos e ministros da Defesa em Moçambique, Guiné-Bissau, Iémene, Tanzânia, Angola, Namíbia, Laos, Etiópia, Afeganistão e noutros países em desenvolvimento. Durante 25 anos de funcionamento do centro (mais tarde, transformado na Escola Militar de Simferopol) foram preparados mais de 10 mil oficiais para os exércitos de libertação nacionais.
No período soviético, o Utz-165 (assim era de forma conspirativa conhecido o Centro de preparação de militares estrangeiros junto do Ministério da Defesa da URSS) era considerado um local secreto e estava sob o comando directo da Direcção do Estado-Maior General. Mas não foi possível manter tudo em segredo, porque o funcionamento da escola de Perevalnii exigia a participação de quase 500 civis, fundamentalmente habitantes das aldeias vizinhas e de Simferopol. Porém, eles não sabiam toda a verdade, nem podiam saber, por isso inventavam coisas e contavam lendas e mitos sobre os “soldados negros”, “franco-atiradores amarelos” e “escorpiões vermelhos”. Então, era impossível aproximar-se da escola sem autorização e a simples curiosidade podia acabar numa detenção e algumas horas na “prisa” para identificação. Hoje, nesse lugar, encontra-se uma cidade militar e o polígono da divisão da 36ª brigada especial da guarda-costeira da Armada da Ucrânia.
 
Centúria Negra”
 
Os primeiros alunos foram trazidos na Primavera de 1965. Tratava-se de guerrilheiros da Guiné-Bissau que, nessa altura, combatiam pela independência contra os colonizadores portugueses. Os recrutas foram recebidos por Vladilen Kintchevskii, primeiro comandante do centro de treino . O avião, que vinha da Bulgária mas não estava no horário dos voos, aterrou já a noite ia avançada.
Segundo recorda Vladilen Kintchevskii, o secretismo era tão grande que os que os recebiam não sabiam de que país vinham os pupilos.
Na rua estava escuro, não se via as caras, mas apenas silhuetas, diz Kintchevskii. – Só quando nos aproximámos é que vimos que eram africanos negros. Os nossos tradutores tiveram de suar antes de compreenderem que a única língua que os guerrilheiros entendiam um pouco era o português. E nem todos, muitos falavam nos seus dialectos locais, era preciso recorrer à linguagem dos gestos para nos compreendermos uns aos outros”.
 
Dormir debaixo da cama, não comer arenque
 
O número de enviados por Amílcar Cabral, secretário-geral do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde, foi de 75 pessoas com idades compreendidas entre 16 e 35 anos.
Os “estudantes” guineenses foram transportados para a URSS com transferências, por vias indirectas para não provocar o interesse da espionagem inimiga. Logo após a aterragem, foram enviados para a base para um período de quarentena. Ainda bem que, embora a base ficasse a pouco mais de um quilómetro da estrada de Ialta, ela estava completamente cercada por colinas e montanhas. Por isso, os banhistas que corriam para o mar, de nada suspeitavam.
Desde a primeira “fornada” que o comandante passou a ter muitas dores de cabeça. Como se veio a saber, muitos dos guerrilheiros nunca antes tinham dormido em camas e, depois do recolhimento, deitavam-se a dormir por debaixo delas, como se fosse um tecto. Além disso, praticamente nenhum guineense sabia o que eram botas e tivemos de lhes dar sapatos a todos, mas, nos tempos livres, eles voltavam a andar descalços.
Segundo Kintchevskii, os “estudantes” interessavam-se principalmente pelo mundo que os rodeava. Diz que os guineenses insistiam constantemente em ver o que havia para além dos muros da base.
Tínhamos de os puxar à força pelas calças, como alunos mal comportados, recorda o tenente-coronel na reserva. – Isto porque os habitantes locais apanhavam valentes sustos quando viam cabecinhas pretas por cima do muro. As coisas também não corriam bem com a alimentação. Não, havia comer com fartura, mas os cozinheiros militares não conheciam as particularidades da cozinha guineense e ficaram durante muito tempo surpreendidos pelo facto de a comida ficar intacta. Afinal os africanos não comiam porque pensavam tratar-se de arroz estragado. Por exemplo, servíamos ao jantar ovos cozidos e eles, esquisitos, rolavam-nos pela mesa e riam-se, porque não sabiam o que fazer com eles. Ou arenque ao almoço: arrastavam-no pelo rabo no prato, mas não comiam”.
 
De guerrilheiros a ministros
Visita de hóspedes estrangeiros

Visita de hóspedes estrangeiros

Um ano depois de os primeiros pupilos terem começado os treinos na Crimeia, foram visitados por líderes africanos da revolução. Na base estiveram Amílcar Cabral, secretário-geral do PAIGC e Agostinho Neto, dirigente do Movimento Popular pela Libertação de Angola. Mostrámos às visitas as casernas, o refeitório, os polígonos e até os deixaram dar tiros com armas de guerra.
Inicialmente, propusemos pistolas, recorda Vladilen Kintchevskii. – Cabral não disparava nada mal, mas Neto ficou nervoso por alguma razão, as mãos tremiam fortemente. Ele nem sequer acertou no alvo. Mas, depois, deixámos-lhes disparar de canhões sem recuo, que tinham sido antecipadamente preparados pelos nossos artilheiros: apontaram, fixaram o alvo e restava apenas disparar. Mas mesmo assim não acertaram e os pupilos viram a pontaria dos dirigentes da revolução”.
É triste, mas foi precisamente um aluno do Centro da Crimeia que matou a tiro o líder do movimento de libertação nacional. O jovem foi durante vários anos guarda pessoal de Amílcar Cabral, mas, no fim de contas, foi subornado e matou o seu chefe. Por outro lado, um tal José Marques chegou até ao cargo de comandante da secção operativa do Estado Maior.
Depois do primeiro curso, o centro recebeu combatentes de Angola e de Moçambique, do Laos e do Vietname, de Cuba e do Afeganistão. E deve reconhecer-se que os ensinamentos aprendidos pelos guerrilheiros na Crimeia deram resultados. Por exemplo, em Abril de 1974, Portugal reconheceu a República da Guiné-Bissau como Estado soberano e começou a retirada de tropas do seu território.
 
Sabotadores do imperialismo
 
O coronel Mikhail Strekozov foi o autor dos primeiros programas da “escola de guerrilheiros”. Em 1965, regressou da Síria, onde foi, durante quatro anos, conselheiro militar de comandante de frente e dirigiu a secção de ensino do centro em Perevalnii. O programa de treinos, além das disciplinas práticas de combate, havia tempo para a preparação política. Como era devido, os africanos, que mal sabiam ler, eram obrigatoriamente sobrecarregados com a teoria do marxismo-leninismo, tinham curso de história dos movimentos revolucionários internacionais. Continua a ser um mistério se eles conseguiam assimilar alguma coisa ou não, pois os professores de ciências sociais não testavam os conhecimentos dos alunos e os guerrilheiros não tomavam notas. Mais, até as mais simples operações aritméticas eram ensinadas segundo um método especial para os analfabetos.
No campo militar, eles estavam à altura, recorda Mikhail Vassilievitch. – Não sabiam o que era cansaço no polígono. Eles eram treinados, no fundamental, com armas da época da Grande Guerra Pátria (2ª Guerra Mundial) em todas as especialidades do exército. Era o ideal para a luta de guerrilha. Insistia-se particularmente na preparação de sapadores de minas. Ensinávamos-lhes a fazer explodir vias férreas, pontes, edifícios. No fim do curso, sabiam trabalhar com explosivos, sabiam montar e desmontar minas. Mas mais nada, não conseguiam fazer um detonador. Nós não precisávamos de extremistas.
 
Recrutas árabes
 
Até ao início dos anos 70, o Centro preparava fundamentalmente combatentes e comandantes para os países africanos permanentemente em guerra. A URSS apoiava a luta armada das “forças progressistas” pela independência em Angola, Moçambique, Congo, Zimbábue, Guiné. E só em 1975 na Península da Crimeia apareceram os primeiros recrutas dos países árabes. Inicialmente, eram pequenos grupos de guerrilheiros de Omã: soldados da Frente Popular de Libertação de Dofar. Depois começaram a chegar os rapazes de Yasser Arafat, que, nessa altura, era muito amigo de Brejnev.
No Outono de 1975, a Simferopol chegaram 90 palestinianos. O primeiro escândalo com eles ocorreu no aeroporto. Os nossos guardas-fronteiriços detectaram que um dos combatentes do “Movimento de Libertação da Palestina” (FATH) não tinha declarado que trazia consigo 10 mil dólares! O chefe do grupo, para salvar os dólares do subordinado, tentou explicar que esse era dinheiro comum que lhes foi dado para gastos pela direcção da FATH.
Porém, posteriormente, viu-se que os palestinianos estavam longe de ser uma prenda. Depois de chegarem à base, eles recusaram-se a cumprir horários e exigiam para si horário mais brando com o direito de sair do quartel. Então, a fim de evitar um escândalo, depois de consultas intensas com Moscovo, os nosso oficiais fizeram cedências. Porém, as consequências não se fizeram esperar: os combatentes de Arafat começaram a ser apanhados nos braços de prostitutas mesmo em Sevastopol, cidade fechada aos estrangeiros. Ocorriam sérios problemas dentro do Centro: quando chegaram rapazes da Síria para treino, representantes do Partido BAAS. Os seus conflitos com os da FATH  acabavam frequentemente à facada.
 
Quadros para todo o mundo
 
Depois da base, em 1980, se ter transformado no Instituto Militar de Simferopol (IMS-80), do programa desapareceram “disciplinas guerrilheiras” específicas e o curso de preparação passou para 2 anos. A geografia dos recrutas alargou-se: chegaram grupos do Vietname, Laos, Cambodja, Mongólia, Cuba, Afeganistão, Líbano, Índia, Nicarágua e até de Granada. Além disso, o ensino era leccionado só em russo. No centro já não se preparava guerrilheiros, mas oficiais de carreira para os exércitos dos amigos da URSS: tanquistas, artilheiros, operadores de armas anti-aéreas, ligações e condutores. Paralelamente, no IMS-80, funcionavam breves “cursos de melhoramento da qualificação”. Por exemplo, em 1983, oficiais de Muamar Kaddafi: um coronel e três majores, foram à Crimeia receber treino especial de sapadores.
Com a autorização do CC [do PCUS], os pupilos passaram a fazer excursões a Ialta e Aluchta. . Um lugar especial era o kolkhoz de vanguarda “Amizade dos Povos”. Mostravam-lhes as casas dos kolkhozianos para mostrar como as pessoas simples viviam bem. Quatro pupilos cubanos casaram-se com jovens locais. Outros tentavam levar para a pátria pesados instrumentos musicais.
Um jovem de Madagáscar martirizava toda a gente com a perguntas sobre onde comprar um piano, recorda Vldilen Stepanovitch. – Eu fiquei surpreendido: para que quer um piano em África? E ele responde-me: “Não compreendes, chefe, que um piano, no nosso país, são dois “mercedes”? Leve para casa, vendo e compro dois carros: um para mim e outro para o meu pai”. “E assim fez, quando partiu, fizeram-lhe um contentor de madeira e ele levou um piano no navio. Era assim que os africanos me davam lições de economia de mercado”…
 
Bem vestidos e alimentados como pilotos
 
…A propósito, todos os pupilos durante a sua permanência na URSS tinham garantida roupa civil: um fato, duas camisas, sapatos, meias, no valor total de 250 rublos. Para despesas recebiam 20 rublos mensalmente. Por isso não era surpreendente quando os pupilos mais despachados conseguiam juntar quantias bem boas. Eles eram melhor alimentados do que os soldados do Exército Vermelho. Os pupilos ultramarinos tinham direito a uma ração segundo a “norma de verão”: 3 rublos e 50 kopeques, quase como numa casa de repouso dos sindicatos. Além disso, recebiam cada um uma farda militar: gabardina, fato, duas camisas, gravata, chapéu, meias e sapatos. Em média, a URSS gastava e cada um de 6,5 a 8 mil rublos. Por isso, a manutenção do centro de ensino não ficava barata à direcção soviética, porque só a Líbia, Laos e Etiópia pagavam os cursos dos seus alunos com dinheiro vivo. Todos os restantes preferiam estudar a crédito.
 

Para termo de comparação, o salário mínimo na URSS rondava os 80 rublos

Texto publicado em:
http://vz.ua/novosti/obshchestvo/vuz_dlya_diversantov_kak_v_krymu_gotovili_povstantsev_dlya_azii_i_afriki

Por José Milhazes
Quinta-feira, Novembro 14, 2013

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